Render ou enfrentar?

28/12/09

Nas últimas semanas o debate sobre a proposta da suposta criação de 600 novos postos de trabalho na GM tomaram conta dos noticiários da região e principalmente da vida dos operários nessa montadora.

Supostos por quê? Foram 900 demissões no ano passado, portanto não seriam 600 novas vagas e, sim, repor uma parcela do que a empresa se desfez --mas este ponto a empresa e a Prefeitura de São José preferiram não contar para a cidade.

Parece pesado falar em reposição quando estamos falando de pessoas, mas é justamente assim que o sistema capitalista vê a classe trabalhadora: como mercadorias que ora podem ser usadas, ora dispensadas e jogadas como refugo no processo de produção de valor.

Estamos juntos com os operários que resistiram às pressões das chefias, à chantagem da empresa, que foi além dos muros da fábrica e atingiu amigos, e parentes.

Nestes dias difíceis para os trabalhadores, se falou em atraso, intransigência, negação ao processo de globalização, radicalismo.

Vejamos como são argumentos tão distantes da realidade vivida pela classe trabalhadora.

Os metalúrgicos em Gravataí (RS), São Caetano do Sul (ABC Paulista) e tantos outros vivem na pele a experiência do banco de horas: não manteve ou garantiu novos empregos, condicionou a vida dos trabalhadores à vontade da empresa e aumentou o número de acidentes e doenças provocadas pelo trabalho.

O capital já nasce globalizado, não com as facilidades que a tecnologia oferece hoje, mas a regra permanece a mesma: buscar novas áreas para expandir e aprofundar a exploração da classe trabalhadora.

Em 2006 os metalúrgicos na Volkswagen foram ameaçados com a demissão de milhares se não aceitassem a redução de direitos e a diminuição do piso salarial.

Os trabalhadores resistiram, mas a direção do sindicato da categoria mais uma vez optou pelo pacto com a empresa. A Volks, que tinha em 1986 36 mil funcionários, em 2006 passou a 12 mil, com todos os acordos que queria para reduzir direitos, salários e impor o banco de horas.

Portanto, fica claro que a fórmula das empresas é reduzir direitos, demitir e contratar pagando menores salários.

E o que estas mesmas empresas chamam de novo já existe desde a ocupação da América, da circunavegação da África há mais de cinco séculos. Ir além de suas plantas de origem ocupar novas áreas com a ajuda de governos subservientes, como observamos que tem sido o desta cidade, e assim ampliar a exploração sobre os trabalhadores.

Entre se render ou enfrentar essa fórmula que garante a riqueza de poucos em troca da miséria de muitos, os operários da General Motors decidiram enfrentar.

E travaram uma luta que não é exclusiva dos metalúrgicos na montadora ou dos trabalhadores em São José dos Campos.

É uma luta nossa, do conjunto da classe trabalhadora para manter e ampliar direitos, que não foram presentes de patrões ou governos, mas sim fruto do movimento de homens e mulheres trabalhadores.


Por Ana Paula de Simone e José Carlos de Souza

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